Pois bem, havia chegado em Recife para cursar o doutorado há pouco mais de duas semanas, que foram o bastante para eu decidir que seria muito melhor comprar um carro (ainda que velho) do que andar nos ônibus insuportavelmente lotados. E assim comecei a minha busca, porém sem pretensão nenhuma de comprar um carro antigo, qualquer Fiat Uno 96 a 98 em um estado razoável de conservação já estaria de bom tamanho, afinal o seu uso seria apenas para me levar diariamente para a Universidade.
Sempre quis ter um Fusca antigo, mas tinha impressão que seria um daqueles sonhos que só se realiza bem tarde na vida, e assim, as poucas vezes que tive oportunidade de comprar um, por um motivo ou por outro acabava desistindo.
Durante estas duas primeiras semanas que andei de ônibus em Recife, todos os dias quando ia para a Universidade passava em frente de uma loja de carros usados e via um fusquinha 66 bem conservado com o anúncio de venda, certo dia desci do ônibus (já pensando em comprar um carro) e fui perguntar qual era o preço do besouro, o vendedor sorriu e disse: - já está vendido jovem, um colecionador comprou esta semana e está providenciando um caminhão para levá-lo. Só por curiosidade então perguntei qual havia sido o valor da venda, e o vendedor me disse que havia sido vendido por R$ 8.500,00. Pensei comigo que aquele carrinho valia cada centavo deste dinheiro, tal era sua conservação.
Passaram alguns dias e acabei deixando de lado idéia do Fusca, voltei a pensar num Uno e então resolvi procurar na internet. Não encontrei nenhum Uno na faixa de preço que eu podia pagar, eis que me veio na cabeça a idéia de procurar por um Fusca na internet. Pensei comigo: - se não apareceu Uno quanto mais Fusca. Mas mesmo assim fiz a busca... lá estava ele entre vários New Beatles seminovos, chegava a soar como ousadia. O que diacho estaria fazendo um Fusca 1962 no meio dos seus irmãos mais novos (bem mais novos e bem mais caros)?! Não quis nem saber, anotei o endereço da loja e me programei para ir vê-lo no sábado de manhã. A única coisa que me incomodava era o fato de no anúncio seu motor estar como 1300, mais um motivo para ir até lá olhar.

No sábado então, levei quase duas horas de ônibus, parei no ponto errado e caminhei mais uma meia hora para chegar numas das lojas do Shopping do Automóvel de Pernambuco. Foi amor a primeira vista, haviam muitas pessoas olhando os carros mais novos e eu fui direto no fusquinha, desprezado pela maioria. A primeira coisa que fiz foi olhar o motor e pedir para ver o documento do carro, e para meu alívio, constatei que seu motor era sim 1200 e não 1300 como no anúncio. Fiquei realmente espantado com a conservação do carro, embora tivesse uns pontos de ferrugem nos parachoques e nas calotas imperceptíveis nas fotos, mesmo assim bobagem.

Futuquei o carro todo, abri o capô, deitei embaixo dele, sentei, bati na lataria, funcionei, meti o deno no escapamento, até que pedi para dar uma volta nele. O vendedor se prontificou a tirar a fila de carros que estava na frente dele para fazermos o
test drive. No começo foi um tanto difícil, mas logo me acostumei com o jeitão de fusca.
Embora a pintura desse a clara idéia de que havia sido retocada (e mal) para a venda, no geral tive uma boa impressão do carro. Ao dirigir, o motor assoviava como é característico, as marchas entravam sem dificuldades aparentando que a mecânica dele estava boa, o que para mim seria fundamental. Outros aspectos positivos que me chamaram a atenção foram as lanternas traseiras, os piscas dianteiros, o retovisor externo e os pneus novinhos. Realmente aquele carro, embora não fosse original, suas características originais foram cuidadosamente preservadas por seu(s) dono(s) anteriores.